
Nanocervejaria: grande valor para a cultura cervejeira no Brasil, parte 3
Agora vocês vão conhecer um pouco mais das cervejerias Mestre das Poções e B&R Cervejas Especiais. Chegamos ao terceiro capítulo do tema nanocervejarias com dois paulistas com objetivo de expansão. Ambos começaram como produtores caseiras, melhoraram o equipamento, e agora sonham com novos patamares. Porém, ainda são vistas diversas barreiras para conseguirem entrar no mercado.

Com uma produção mensal de cerca de 250 litros, a Mestre das Poções aposta num tom misterioso e mágico para conquistar seu público. Ao invés de seguir a Lei de Pureza Alemã, eles seguem as leis astronômicas e produzem cerveja de acordo com as fases da lua. Agora, os cervejeiros de Araras, São Paulo, trabalham para crescer e se regularizar. “Abrir empresa é fácil. O problema são os registros dos produtos no MAPA, que é demorado e exige os laudos. Esse é um passo que estamos nos preparando para dar”, afirma André Balparda, um dos sócios da nanocervejaria. Ele afirma que a cervejaria deve ter parte dos equipamentos profissionais e parte homebrewers, fermentando em bombonas dentro de freezers. “O processo de homebrewing dá certa liberdade experimental ao produto, coisa que ainda não queremos abrir mão”, justifica.

Porém, André sabe que o caminho para a legalização não será rápido, mesmo eles já tendo uma empresa constituída. “Estamos nos preparando para entrar com a papelada no MAPA. Precisamos fazer uma reforma na ‘Cervejaria’ para nos adequarmos às normas da Anvisa. Por exemplo, azulejar todas as paredes (hoje só nossa cozinha é azulejada).Esperamos encontrar muita burocracia a frente, e gastar mais do que planejamos”, confessa André.

O caminho difícil também é apontado por Marcelo Breda, um dos sócios da B&R Cervejas Especiais, de São Paulo. Ele acredita que uma mudança na legislação seria o caminho para que estes nanoprodutores pudessem excercer sua atividade legalmente. “Se todos os cervejeiros caseiros e artesanais de verdade fizessem o mesmo, cuidassem da qualidade do que produzem e colocassem suas cervejas no “mercado” regional, leia-se vizinhança, essa pressão seria muito mais eficiente e eficaz do que políticos engravatados que nem sequer sabem o que é malte”, dispara. Marcelo se preocupa com a qualidade da informação sobre cerveja, e sobre produção caseira, encontrada na internet, e por isso criou o blog Breja do Breda. Seu objetivo é passar conhecimento para que cada cervejeiro desenvolva seu próprio caminho, sem apenas tentar criar clones de suas cervejas prediletas.
Como forma de incentivar a cultura cervejeira, Breda ainda fabrica equipamentos e ensina didaticamente como fabricá-los. “Procuramos fazê-los para os que não tem habilidade, tempo, paciência ou vontade de produzir seu próprio ferramental”, explica. Ele cobra ainda a mesma atitude de outras pessoas do meio cervejeiro, que segundo ele, quando crescem se voltam mais para resultados financeiros que para o engrandecimento da cultura cervejeira do Brasil. Marcelo Breda afirma que imagina criar uma cervejaria do tamanho viável para que o mercado absorva seus produtos, seja ele qual for. “Não há a necessidade de ser comprado, de virar milhonário, de ser fechado por interesses diversos e ser afastado do mercado simplesmente por causa de alguns milhares de reais ou dólares ou euros”, completa ele.
As duas cervejarias paulistas, portanto, trabalham tanto para difundir a cultura cervejeira quanto para transformar sua nano em uma microcervejaria. Para André, da Mestre das Poções, a principal vantagem da legalização é poder sair do submundo de encontros e eventos. “A legalização permite uma liberdade de nos tornarmos públicos. Mas por outro lado você se aprisiona nas entrelaçadas e obscuras regras da burocracia brasileira. Um verdadeira dicotomia etílica”, explica.
Na parte final da nossa série sobre nanocervejarias vamos conhecer o caso da Seasons, de Porto Alegre. Fundada por um cervejeiro caseiro que entrou no mercado vendendo suas levas, hoje ela é uma microcervejaria com produção mensal de cerca de 4 mil litros e em breve estará com sua produção sendo engarrafada e distribuida para vários estados do Brasil. Leonardo Sewald dará dicas e apontará caminhos para quem sonha, como ele também sonhou, em ter a sua microcervejaria. Até lá!