
Cerveja e vinho: uma comparação entre as duas bebidas
O mundo das cervejas e o mundo dos vinhos vêm evoluindo em trajetórias paralelas e contam com entusiastas que raramente se conversam.
É interessante observar como aqueles que se interessam muito por uma delas têm resistência em aceitar a outra. O importante é ter a consciência de que não é necessário gostar ou se aprofundar tanto nos temas que não são nossos favoritos, mas entender e respeitar para não dar mancada.
Talvez essa rejeição parta por motivos históricos, de associação do vinho como uma bebida nobre, essa sempre ostentou uma maior cerimônia e valorização que a cerveja.
O mercado de vinhos é muito mais consolidado e menos dinâmico que o da cerveja.
Como a cerveja que sempre foi uma bebida de massa e mais popular no Brasil do que o vinho, ela é associada a menores preços e acessibilidade.
A partir de 2010 ela veio ocupando, cada vez mais, seu justo espaço de “bebida sofisticada” e tendo aderência no mercado, mas ainda é curioso observar que existe tanto desconhecimento dos dois lados.
Para introduzir a pauta e ajudar a conhecer um pouco das semelhanças e diferenças entre os dois universos, segue um pequeno paralelo entre as duas bebidas, vale lembrar que você pode complementar com toda a informação que você encontra na internet.
É curioso observar que nas cervejas populares, a falta de sabor forte é um item valorizado pelo mercado de massa enquanto nos vinhos é o contrário. Começa-se experimentando um potente tinto, normalmente sul americano, com sabor que rasga e depois se experimentam outros estilos, uvas e regiões.
Nos dois grupos também existem aqueles que são “torcedores de rótulos” e falam que X cerveja ou Y vinho é “melhor do mundo” ou “incomparável”.
Uma coisa observável em confrarias de cervejas e vinhos é que CADA UM TEM SEU GOSTO. É possível odiar a cerveja favorita do seu amigo e vice versa — mas ninguém está errado!
Nem sempre o mais caro é melhor.
Um bom indicador se um vinho é bom é observar se a garrafa esvaziou. Independente do número de pessoas bebendo, se o líquido sumiu da garrafa e das taças, é indício de um bom vinho. Já não observo o mesmo nas cervejas.
Muita gente toma não recusa a cerveja mesmo que não seja tão boa. Não é fácil medir o sucesso de uma cerveja com uma única garrafa ou rodada.
Claro que as diferenças e semelhanças se estendem por muito, muito mais. Essa foi a ponta do iceberg.
São dois universos extremamente vastos e ricos que se conectam em mais momentos do que costumamos reconhecer, como por exemplo na harmonização, por isso faremos um paralelo entre cerveja e vinho harmonizando o mesmo prato, ok?
Cerveja x vinho: um duelo de harmonizações
Com a popularização das cervejas “especiais”, começou a surgir uma rivalidade até hoje adormecida no mundo gourmet: a disputa entre as bebidas fermentadas.
Claro que ainda não vimos a entrada das cidras, sakês e outros fermentados pra valer na disputa, mas a longa tradição do vinho e a recente popularização das boas cervejas trouxe a tona essa questão: qual a melhor bebida? qual é mais elegante? qual o melhor presente?
Pessoalmente acho que as duas são totalmente versáteis e a escolha vai depender mesmo do humor na hora de consumir, por isso resolvemos juntar as paixões por comida e bebida para entender como seria a harmonização da cerveja e vinho com o mesmo prato.
Vejamos como foi!
1. Salada de endívias com camarão ao molho de maracujá
Cerveja: Amazon Witte Taperebá (Brasil)
Vinho: Falernia Sauvignon Blanc 2011 (Chile)
A salada de entrada apresentou um sabor leve, mas presente. A escolha da cerveja teve foi o estilo Witbier da Amazon Beer com o Taperebá que trouxe um tempero inusitado à mesa.
A opinião geral, entretanto, foi que sabor cítrico e os aromas mais potentes do vinho trouxeram mais personalidade à combinação, deixando a cerveja para trás. Ponto para o vinho.
2. Salmão em papilote com ervas frescas.
Cerveja: Wäls Saison de Caipira (Brasil)
Vinho: Domaine St Hilaire Rosé 2010 (França)
Um peixe com grande personalidade e temperado com ervas elegantes. Foi bem acompanhado pela criação da Wäls com o Garret Oliver, a cerveja Saison feita com cana de açúcar.Os sabores se complementaram, ficou realmente delicioso.
Quanto ao vinho, a intenção foi boa, mas infelizmente o peixe ressaltou o álcool e não agradou muito. Mesmo com poucos taninos, o rosé não foi a melhor opção. Ponto para a cerveja.
3. Tortilla Espanhola de batatas com Parma
Cerveja: Amazon Red Ale Pripioca (Brasil)
Vinho: Toro Loco Joven Tempranillo 2011 (Espanha)
Até certo ponto uma injustiça com a cerveja: apresentar um prato espanhol com um vinho espanhol. A Red Ale da Amazon talvez tenha ousado demais com a Priprioca e acabou sobrando em muitos copos.
Sinceramente, uma boa combinação com a tortilla: o prato amenizou o sabor rasgante da cerveja.
Para a maioria, no entanto, o famoso vinho espanhol, vencedor de concursos internacionais, apresentou mesmo a melhor combinação com seu aroma e frescor. Não foi unânime, mas foi ponto para o vinho.
4. Costelinha ao molho defumado
Cerveja: Aecht Schlenkerla Rauchbier Märzen (Alemanha)
Vinho: Filgueira Tannat Reserva 2007 (Uruguai)
Hora da vingança da cerveja! Um prato feito com a própria cerveja ao estilo de Bamberg só podia ter a melhor companhia em uma cerveja do mesmo estilo.
O vinho apresentado também foi de artilharia pesada: a uva Tannat é famosa por sua potência e taninos que acompanham bem os sabores de carnes mais fortes.
Houve uma opinião a favor do vinho, que complementou o sabor do molho, mas a maioria dos participantes preferiu a cerveja.
Uma opinião justa: ficou sensacional. Alguns que nunca haviam experimentado uma rauchbier acharam o aroma de bacon muito inusitado, mas concordaram que combinava muito bem com a comida.
5. Colherzinha de brigadeiro gourmet com split de chocolate belga
Cerveja: Taberna Dry Stout (Brasil)
Vinho: Porto Dow’s Fine Tawny (Portugal)
O desempate ficou para a sobremesa. Surpreendendo também muitos participantes que não viam como algo além de água podia acompanhar chocolates intensos. Essa foi a disputa mais acirrada de todas.
As duas combinações foram surpreendentes.
O vinho, que tem um sabor, para alguns, enjoativo se tomado sozinho, criou um terceiro sabor delicioso ao combinar com o chocolate. A cerveja ajudou a ressaltar o doce e amargo do chocolate gourmet, potencializando seu sabor.
No fim, por uma margem apertada, os participantes votaram na cerveja.
Com a cabeça leve e a barriga cheia, podemos dizer que esse evento não acontece todos os dias e recomendamos que vocês façam o mesmo com amigos!
E o resultado demonstra que a cerveja, não necessariamente loira nem gelada, é sim uma ótima bebida para acompanhar pratos sofisticados com grande versatilidade.
8 de abril de 2013 às 23:04
artigo pertinente, parabéns pelo texto